quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Vidas Passadas


Na minha "vida passada", como se costuma dizer, editei dois livros.

Des.Ventrado e Ensaio à Purificação.

Foram projectos experimentais, cujo o sucesso foi algo extremamente relativo.
Arreliou-me porque me fez sentir diminuída, esmagada, frustrada.

Fez-me sentir o que muitas amigas e colegas minhas experimentam a nível profissional,
em que se publicitam, divulgam, criam, sempre em vão.

Não tenho o hábito de divulgar o meu trabalho, ironicamente, e até sei que a maioria das pessoas não faz ideia do que faço, mas eu sei e isso é o quanto me basta; enquanto tentei divulgar o que fazia só afastava mais e mais as pessoas da minha vida, quando deixei de querer saber passei a atrai-las. 

O serviço que é realmente BOM vai "à praça" e fica nela porque chega às casa de boca em boca, não me lembro de escolher o Dr. Wolker como pediatra dos meus filhos porque vi cartazes dele no metro, ou porque ele me convidou a ir ás suas consultas por eventos, lembro-me que O escolhi porque muitas pessoas me disseram bem dele e essas mesmas pessoas pagam efectivamente pelas suas consultas, então, SE essas mesmas pessoas que pagam são Aquelas que O publicitam é porque ele deve ser realmente bom ( e é-o).

Hoje em dia o que faço como trabalho é o meu mistério e dos meus, não quero publicidade, e só aceito contactos em primeira mão; quanto à escrita, que tanto tentei divulgar para "ser" escritora, essa dissolveu-se no manto que sou eu, quis até queimá-la numa fogueira viva, tentei, experimentei, varias vezes, num insucesso maior do que o de continuar a escrevê-la; acontece que escrevo porque tenho de escrever, é uma necessidade fisiológica, uma necessidade da alma.

Se parar de escrever morro. Ponto. 
Sinceramente já nem quero saber se me lêem ou não mas fico feliz quando sinto que sim, que serve para alguma coisa este meu excremento de ser.

Partilho porque partilho absolutamente tudo.

Partilho porque sou filha única da minha mãe e sempre quis muito ter irmãos e amigos com quem poder brincar.

Partilho porque NÃO SEI fazer mais nada senão partilhar...

Quero conversar, 
Quero conhecer-me... 
Quero oferecer o pouco que sei mas que é absolutamente tudo o que tenho para dar...

A minha antiga editora disse-me num determinado ponto, em tom de critica, que a minha escrita era para uma pequena franja de pessoas. Na altura fiquei magoada, confesso. Hoje, ontem, antes de ontem, quanto mais leio o que se escreve e edita por aí fico mais sossegada, não me interessa se escrevo para franjas, até porque sempre adorei franjas no sentido literal da palavra, o que me interessa é que escrever me alivia a alma, me ajuda a contactar com o mundo, a compreender Quem Sou, onde estou e ao que vou. 

O que me interessa não é escrever palavras novas até porque acho que não há nada de novo para escrever, o que ME interessa é o impulso do pulso que não sossega, a alma que não se acalma, o sangue que não para de escorrer, em mim, por mim... para mim. 

Escrevo aquilo que sei para não me esquecer. 
Todos caminhamos para velhos e as coisas engraçadas de se ler são boas porque nos servem para rir mas o que eu escrevo só serve para isto, para não nos esquecermos.

Serpente que me sobe o corpo numa demanda.

Boca que se abre num só esguiço, gesto absolutamente mudo. 
As crianças ainda não me sabem ouvir, então escrevo, imprimo, talvez um dia, um deles, ou quem sabe um neto, há-de me saber apreciar e ouvir, até lá reforço o pensamento, publicidade para quê ? o que é bom é eterno o que é vendido é quase sempre sol de pouca dura. Eu quero morrer velha, muito velha e escrever até morrer.

...

amo-te meu marido.
O único que me lê.


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