domingo, 18 de agosto de 2013

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Hoje de manhã ouvi o som da mota a "descolar"
Hoje de manhã senti um aperto no centro do peito daqueles que sobe como ácido sulfúrico até ao centro da boca, garganta fria...mas não o entendi, bem.

Esperei.
Escutei.

Levantei-me, calcei a pantufa invisível que não tenho e caminhei escada abaixo, ouvi o ranger da madeira, abri a maçaneta da porta e de forma quase mecânica e sem sentido preparei três pequenos almoços; excluindo-me, estupidamente a mim e como se planeado, pelo destino, com o pousar do terceiro prato de fruta sobre o tampo da mesa da cozinha ouvi o segundo plano de ranger de portas e pés, seis pequenos membros, um de cada vez, de mãos dada chegaram, sentaram-se e invadiram o espaço com tanto barulho. A noite foi longa e um pouco "dura", a Paloma acordou três vezes, a Carminho outra uma, percorri os quartos enquanto os outros dormiam, vi a lua, o dançar das árvores e o descolar da mota, tudo comigo própria, de manhã não queria barulho e por isso zanguei-me.

Depois de me zangar, sentei-me. Calada permaneci com a esperança que o meu exemplo fosse observado e seguido mas as crianças não são assim, elas não precisam de paz como nós adultos inquietos pois elas São a Paz, a sua inquietação é a alegria da vida e por isso compreendi que a única pessoa errada no quadro, no cenário daquele pedaço da manhã era eu. 

Retirei-me.
Enterrei os headphones na cabeça e ouvindo-os agora num suave murmúrio longínquo questionei-me.:

O que tens tu ò "velha" mamã?

Estas cansada? Mas isso já sabemos...

O que está por debaixo do debaixo da pele?

Estou zangada porque não consigo dormir...

Sim...mas isso já sabemos...

O que está por debaixo da zanga?

e nesse momento abençoado ouvi entre os vários murmúrios da sala a pequena Carminho .:

- Tou...Tou...papa.

e a Paz que se repetia.:

- Sim Pai, já sabemos que não podemos fazer Tantos disparates, 
Sim Pai já sabemos que devemos ajudar a nossa mãe ( e ria , de mansinho, como se soubesse exatamente que tudo o que dizia não era de todo para cumprir...coisas de crianças...) 

e então aproximei-me.

Espreitei.

Estavam a brincar ao fingir do falar do faz-de-conta ao telefone;

com o pai, está claro.

E porquê o pai?

Porque Um pai é um ser mais que tudo*

Um figura mais do que importante, essencial.

Um pai é um pedaço de autoridade que faz tanta falta, um pedaço de Ordem que faz tanto sentido, um pedaço de Protecção que acolhe, um pedaço de Sabedoria que é tão preciso e enquanto os pensamentos corriam e jorravam como vento observei o que re-Lembrei.: 

O pai dos meus filhos "perdeu" o vinculo com o pai aos sete anos, eu perdi o vinculo com o meu aos três meses...

O nosso primeiro filho, macho, tem sete anos Agora,
a nossa última filha, fêmea, tem três meses.

tenho andado zangada, farta até...

ás vezes falo levianamente do amor, apetece-me descarta-me de tudo só porque amar é a tarefa mais dificil e exigente do mundo. São momentos curtos do dia, mas confesso que SÃO momentos; Existem mesmo que escondidos dentro de mim e assim, sem mais, nem menos, escutei a dor do meu marido, com sete anos ao ver o pai partir, escutei a dor do meu coração pequeno com três meses a deixar o meu partir.

Tanta perda a que fomos sujeitos...

Tanta perda importante, eu sei, perder faz parte do caminho do receber e ter; foi o que nos construiu, faz parte do que hoje somos mas assim como faz parte de mim ser diferente dos outros questionei-me o que quero eu dar aos meus filhos?

Quero eu repetir este padrão? 

e à medida que a pergunta ecoava na minha mente escutei o centro do peito a dizer-me claramente.: 

Não.

Eu NÃO quero desistir! 

Não faz sentido nenhum na minha história por em causa o amor que me une ao pai dos meus filhos, por mais difícil que sejam as noites, por muito "chata" que seja esta fase em que estamos presos; a banhos, pouca mobilidade física, a sestas e lanches e mais lanches e birras e mais sestas e sestas; eu quero permanecer de pé, com ele. Eu quero envelhecer de mão dada com ele. Eu quero suspirar o ultimo suspiro ao colo d'Ele (sim...porque já combinamos, prometemos, e juramos que Eu vou primeiro)

 Tenho o corpo físico atado e cansado mas a mente não por isso é tudo uma questão de escolhas e EU ESCOLHi.:

 Sentei-me novamente, ouvi as vozes lá ao fundo, a felicidade inocente de os ouvir comer, de os ouvir brincar , de saber-me numa casa protegida por mim e pelos meus e compreendi que o aperto no peito da manhã era medo de perder o meu " mais que tudo ".

Medo de O perder com o som da mota que se foi.


Hoje de manhã compreendi que "nunca" amamos o suficiente, que se hoje fosse o último dia não teria dito tudo, abraçado tanto, sonhado mais. Hoje de manhã compreendi que inconscientemente vivemos quase sempre numa azia de insuficiência humana. Uma pressa que nos consome ou Melhor, Me consome.

mas hoje de manhã eu também decidi que eu não vou desistir, que eu não me vou repetir no mau feitio da manhã, que eu não vou ignorar a compatibilidade única que a vida me deu, que eu vou celebrar e repetir votos, vou colher flores e encher a casa de frutas, pedras, conchas e montes de bendizeres com tudo o que sonhamos juntos, de mãos dadas, ao entardecer.

Se Ele nunca desistiu eu também não vou desistir e assim, sem discussões, sem dramas nem confusões entendi que de há uns tempos para cá ponho tudo em causa porque estou, meramente, cansada; 

cansada de um quotidiano metodico de rabos e das fraldas onde me perco tantas vezes de mim. 
Sinto FALTA do meu ser.
Sinto falta de me ouvir; 
de me sentir, 
de me trabalhar, 
de Trabalhar. 

Abençoadas férias de verão que já começam a chegar ao fim. Amo os meus filhos SIM mas também me amo a mim e preciso de espaço, tempo e qualidade de vida para retomar os meus hábitos primordiais e sobretudo para re.acender a chama do nosso amor como uma lareira intensa que jorra cheiros de pinhas, caruma e flores.

amo-te "pai", por cada um de nós reAfirmo.

És tão benvindo na TUA casa

Com todos os defeitos que tens, com todos os Feitos que és, vem*

O teu Outro pedaço do Eu.

Eu


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