segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Quanto tempo tem de passar para o tempo deixar de passar?


Arrumar a casa implica arrumar o computador. Esvaziar pastas que já não interessam e encontrar outras recheadas de coisas que não se voltam a repetir.

Quando é que os nossos filhos param de crescer e com que direito eu, mãe, mantenho o desejo recalcado mas aceso de os querer, eternamente, como "meus"?

Olho á minha volta para conferir que ninguém me vê chorar. O ridículo que seria ouvir a voz de galo do mais velho a dizer em tom de gozo "Lá está a mãe com as suas mariquices outra vez..." E não é que não está?!

Lá está a mãe agarrada aos álbuns antigos a andar para a frente e para trás, incrédula, com tudo o que tivemos a capacidade de construir mas também de destruir. Tudo o que foi e já não volta mais... Só as mães e os pais é que sentem isto, não é?

Será que erramos em algum momento do seu desenvolvimento?

Notamos através das fotografias antigas quando é que as crianças perdem a sua divina ingenuidade, quando é que estes sorrisos inexplicáveis se esgotam no tempo e raramente regressam. A motivação para sorrir actualmente já não é a de "só" olhar para a mãe que lhes estende os braços. Agora o maior desejo é o de ir dormir a casa de "não-sei-bem-quem", fazer uma matiné-maratona de cinema ou acampar com os super-hiper-cools escoteiros e nós, pais? Onde é que nós ficamos na história do crescimento humano?

Claro que eu sei que só somos pais eficientes quando deixamos de ser necessários mas o humano é talvez sempre assim, não? Um misto entre a nostalgia e o egoísmo. Eu confesso. Eu queria-os mesmo só para mim! Queria enfia-los de volta na minha barriga. Enche-los de beijinhos para lhes arrancar aquelas gargalhadas de bebé que nos enchem o peito. Eu queria... Eu juro que eu queria! Confrontada com a dura realidade de tudo isso ser impossível imprimo uma ou duas fotografias e colo-as na parede da nossa sala, bem em frente á mesa de refeição, limpo as lágrimas gordas e "saco-lhes" um beijinho enquanto me dizem " Então mãe? Não vê que eu estou a ler?!"

Eu sei que os miúdos ainda me amam mas eu já não sou a coisa mais importante dos seus mundos... Eles crescem e vão, tal qual dizia o grande profeta Khalil Gibran, " Os filhos são flechas que vêm ao mundo através de nós, mas eles não nos pertencem em momento algum"...

Respiro fundo, pressiono o "Publicar" e rezo para encontrar mais mães no mundo que não me condenem por me sentir assim, mães que não me passem fracas receitas sobre o que deveria ser ou deixar de ser mas que apenas me passem a mão no ombro, sorrindo e digam; "Eu compreendo. Eu já me senti igual..."

Um bem haja a todas as mães que criaram os filhos de forma a serem autónomos, responsáveis e sobretudo livres*

domingo, 23 de agosto de 2015

Cabeça feita em água.


O último post que escrevi data Dezembro do ano passado. Os dias passaram a correr, as noites passei-as sem dormir. Entrei num projecto de cabeça, entreguei-lhe o corpo mas sobretudo esvaziei nele a alma, não me arrependo de nada mas a vida continuou e nem tudo o que dei foi devidamente reconhecido ou recompensado o que me leva a aterrar, de mãos vazias, no centro de mim.

Estive muito tempo longe, ou melhor, perto de outras coisas... Cresci. Chorei mas também ri.

Os miúdos? Os miúdos cresceram. A Paloma é agora um ser vivo praticamente autónomo, a Paz apaixonou-se, o Bernardo tornou-se ateu. A Carminho? A Carminho já tem três anos, está naquela fase do ser e não ser. Enfim; tudo se transformou mas nada se perdeu.

Mudamos novamente de casa, sim. Possivelmente a última das sete mudanças nos últimos onze anos (espera-se:) e eu não estou nem feliz, nem contente, nem triste. Encontro-me naqueles retornos de Saturno em que " ou vai ou racha" e o que rachou foi, de facto, a exigência. Confio mais que nunca. Confio no que a vida me dá e também confio no que a vida me leva. Observo, sentada, tudo o que me rodeia deixando crescer em mim todos os sonhos do mundo, alimento quem me quer bem, liberto quem me faz mal. Sorriu... Ás vezes também choro mas sobretudo respiro e quanto mais respiro mais tenho a certeza que não há tempos perdidos, experiências em vão, nem tão pouco existe o mito da desilusão é tudo o que é, quando é, porque é. Está tudo certo quando paramos de avançar de frente contra a vida e nos limitamos a nadar com a maré.

A vida é isto, não é? Um barco á vela em alto mar e hoje o mar está calmo...