quinta-feira, 3 de abril de 2014

Janela


(Fotografia de Jutta Gerdes, Johann Rodhner, 1986)


Não tenho escrito muito.

Sequei o "sumo".

A vida é tão rápida que nos gasta.

Está na moda ser natural, eu confesso que não tenho tempo para entrar e sair d'ela; o cabelo por pintar mostra tudo, felizmente, quando o material é bom não é preciso disfarçar mas são as outras coisas que me impedem de comunicar.

Antigamente achava que tinha alguma coisa a acrescentar, queria sempre ser a primeira a começar; os diálogos, os jogos, os desafios, a ultima a terminar, acabar, erradicar... antigamente (como se fosse há muito tempo...) acreditava que sabia algo Novo, que podia mudar opiniões, explorar novas opções, agora reparo que todos temos qualquer coisa a acrescentar, algumas pessoas atropelam-se como crianças barulhentas à volta de um bolo, então sento-me, estou de fora, não porque sou a "maior" mas porque estou cansada de brincar; leio, vejo os barcos passar, devagar, o circo actuar, os palhaços cantar, a caravana partir e as estradas por limpar.

A permanência do tempo é algo que me fascina, "ele" passa sim mas apenas para nós. O tempo é tão  além do entendimento humano... é algo imensurável! Descubro nesta antologia que aqueles que não se mexem movem-se muito mais; o mineral, o tempo, a árvore, a Paloma que é "preguiçosa" e insiste em "atrasar" o seu desenvolvimento para gozar o direito que lhe assiste, existir, sem pressas de crescer. São tudo processos, rios que fluem... No fundo nada nos pode parar, muito menos a famosa morte. A passagem do devagar persegue-me; o castor  que corta as árvores para encaminhar fluxos comove-me, ele sabe que não vale a pena lutar para deter a água eternamente, ele sabe que a água encontra SEMPRE o seu caminho; o trabalho de existir tem de ser assim, contínuo.

Já não sei o que procuro, já nem sei quem sou, o que me define ou no que acredito, fui mãe demasiadas vezes em "demasiado" pouco tempo para continuar agarrada a falsos pré-conceitos, dogmas e verdades absolutas. Não somos nada, somos tanto! Não somos nada, somos tudo! Criamos música, dormimos enrolados, procuramos o colo de uma mãe como um primata, grunhimos irritados, berramos zangados, fugimos, regressamos, choramos mais, rimo-nos imenso; o que é isto da Humanidade que não a imagem perfeita do enrolar de uma serpente? Somos filhos perfeitos SIM (!) porque é na nossa imperfeição que crescemos, experimentamos e mudamos.

Somos perfeitos quando nos aceitamos; inteiros. 

1 comentário:

  1. ou como dizia um homem bem viajado:
    " vejo sempre mais do que me lembro e lembro-me mais do que vi"

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