Ontem sentei-me na costura com a nossa filha mais velha, ela pouco consegue fazer por agora com as agulhas mas adora encher carretos com linha, ajudar a esticar os panos, escolher botões, enfim, existir perto de mim e no puxa-não-puxa de linhas e línguas disse-me.:
- Ah Agora já estou farta! Isto tem um nó e eu detesto desatar os nós.
Dei por mim a viajar a mil à hora para trás no tempo. Eu também sentada num banco de madeira ao lado da minha avó materna, costureira, aborrecida com a frustração típica de quando as coisas se complicam, entre as linhas e as mãos, e a dizer EXACTAMENTE A MESMA FRASE, sem tirar nem pôr; Padrões PERFEITOS.
Por segundos a Maria da Paz calou-se e olhou para mim com aqueles olhos gigantes tão típicos dela, ciente de que algo mágico se dera naquele exato momento e então dei por mim a responder, palavra por palavra, o que a minha avó me respondeu; na altura eu não liguei mas o inconsciente memorizou e essa é a coisa mais fantástica desta vida; a informação fica algures onde não conseguimos aceder mas quando é realmente necessária ela vem para nos apoiar.:
- Meu amor... Quem não sabe desatar nós nunca encontrará paz no casamento ou em qualquer outro género de relação.
- Como assim mamã?
- A vida é uma sequência de ações e todas elas nos trazem consequências, algumas vezes óptimas e nessas vezes celebramos, outras vezes difíceis e nessas vezes temos duas hipoteses; ou enfrentamos e desatamos o nó ou fugimos e aceitamos a consequência, ficar sozinhas.
O "aaaah" dela disse-me absolutamente tudo o que eu preciso de saber AGORA, no tempo presente.:
Talvez ela não tenha entendido a profundidade desta questão como eu certamente não entendi aos cinco anos mas a verdade é que para mim, ontem, fez finalmente todo o sentido e fiquei feliz de ter aprendido algo tão sagrado e profundo com a minha avó já falecida mas ainda viva o suficiente para me ensinar uma grande lição aos trinta e dois anos de vida.
Haja imortalidade da alma através das linhas e da vida.
(Aos meus Primos)
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