Chego ao Clube de Ténis depois de um dia de cão, as crianças deram o seu melhor, testes, ensaios de festas de fim de ano, conservatório de música, ballets, compromissos atrás de compromissos. Andar a mil, para onde?
Sento-me. Enquanto um está na aula, o outro faz-me companhia; estamos os dois calados, partilhamos, entre o silêncio, a angustia de mais um dia. Apetece-me perguntar "o que tens?" mas não sei se tenho força para ouvir a resposta; abraço-o, liberto-o. Ele abre a maleta de fazer pulseiras, eu abro o pc. Estamos bem assim. Chega um miúdo de cinco, seis anos que não sabemos quem é, não foi convidado e ninguém lhe perguntou absolutamente nada mas ele, cheio de si, grita bem alto.
" Mãe, porque é que este puto estúpido está aqui calado a fazer pulseiras?"
Olho para os olhos do miúdo, procuro a mãe que está muito ocupada a mexer nos cabelos e a ver o telemóvel, olho para a minha cria, reflexo de mim, tem os olhos prestes a explodir mas não vacila. Permanece.
Como é que eu própria aguento isto?
Em que ponto da vida aprendi a engolir todo e qualquer sapo? E é nesse momento que, num impulso sereno me levanto da cadeira, pego nas nossas coisas e digo.
"Vamos Bernardo. Não nos damos com crianças mal educadas."
A mãe anónima olha-me descrente.
Estou farta de ser abusada por gente gratuitamente má.
Se a arrogância que se vive neste País de pseudo intelectuais e chiques pagasse imposto, de certeza que o estado do nosso Estado não estava assim.
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