quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Fui


( Bernardo e Maria quando eram das idades da Carminho e da Paloma)

Fui mudando de casas estes últimos anos, sempre fascinada por tectos altos, janelas largas, luz branca e um qb de chique ao qual me habituei por desejar uma vida "igual" à Nova Iorquina que não tenho e acredito que ninguém tem, aqui. O nosso pais é velho como as suas moças antigas que espreitam nas janelas, tem bigodes e barbas brancas, as casas são mal construídas de raiz (mesmo as novas), somos do tempo dos anões e das feiticeiras que não se preocupavam com a palavra "ninho" porque se auto-aqueciam com o trabalho dos seus mantras, ervas do campo e bruxedos de luz; na verdade as únicas casas que provaram resultar nos últimos tempos, para mim, foram as casas rústicas, mais pequenas, campestres e rupestres, essas sim... são menos "fancy" mas são mais Humanas, criadas para quem é realmente gente*, de quartos pequenos porque apenas servem para dormir; tectos baixos para o calor não subir, pedra que parece fria mas aquece à medida que a casa entende quem a habita e escolhe ser feliz, as casas aldeãs cedem, moldam-se a quem fica. 

Descubro que apesar de saber bastante sobre mim não sei assim tanto, ou tudo. Estou em mudança-mutante; gosto do chique, sim, mas sou muito mais feliz quando sinto Lar, composto, não por cortinados e mariquice mas por um quente real e concreto, com cheiro de gente que se vive. Finalmente faço sopa, fiz as pazes com a cozinha, cheira a legumes da quinta biológica na rua inteira, são os "legumes da menina" diz a vizinha; larguei mais uma vez o suposto ( da minha mente...) " quando se tem quatro filhos TEM de se ter muito espaço, jardim gigante, etc, etc"; voltei às raízes; é preciso Organização, isso SIM; Espaço exterior é essencial mas pequeno porque as crianças tem um dom muito intenso de se manter debaixo das saias da mãe e tudo o que é grande representa despesa animalesca, mas o mais essencial é a boa vizinhança e muito amor; moro numa aldeia onde as pessoas se cumprimentam, onde deixo cactos e cadeiras no meio da rua e ninguém as leva, onde encho sacos cheios de lixo e no tempo de ir buscar os sapatos, encontrar a chave e o chapéu de chuva já o meu vizinho se ofereceu para levar o saquinho. Vivo numa aldeia onde as pessoas me tratam pelo meu nome, sabem que sou mãe de muita gente, que estou cansada, que me esforço dentro do que posso, que tento e (re)tento as vezes necessárias porque não iludo ninguém nem me deixo ser iludida, provavelmente não há alguém que saiba tudo sobre a vida, onde não me julgam ou se o fazem, fazem-no tão discretamente que não me incomoda, onde me sorriem honestamente e compreendem o que vivo e como vivo, moro numa aldeia onde a minha vizinha nova, bonita e inteligente (sim, porque isto EXISTE) ouve a mesma musica que eu, trocamos cds e até me deixa a chave de casa quando sai para lhe fechar as janela se começar a chover. Vivo numa aldeia como antigamente e descubro em mim que apesar de ter um mar de sentimentos dentro existe uma camada submersa pacifica, lá em baixo, onde os peixes enchem as grutas de ovinhos, muito de mim está chocado com o que encontro aqui, afinal, eu Bárbara também sou paz, a que não usei anteriormente porque não sei mentir; agora Sim, sinto-a. Durmo bem, alimento-me lindamente, caminho em paz, sinto-me n'Ela. Sim, agora sim, vivo numa aldeia onde julgo que vou ficar perto do eterna-mente.

2 comentários:

  1. Oh amiga que bom que é ver-te feliz e mais estável. Viver tranquila constantemente tambem nao te dá assunto de escrita e serias de certeza uma alma "morta". Mas ás vezes o turbilhao desnorteia-nos e alguma tranquilidade é bom para assentar sentimentos e experimentar novos caminhos.
    Espero que esta nova aldeia e esta nova casa esteja aberta e te permita de facto estares com quem gostas
    beijos muitos com saudade
    Diz que 2014 vai ser um ano muito bom para escritores por isso amiga venha de la o Romance!!

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