sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Chamamento


Passei o dia na Serra;

Aquilo que antes me metia medo fascina-me,
Sinto a carne viva, o sangue que escorre, o sustento da vida, incrivelmente já não tenho frio, é a alma que se enrola, aninha, brilha, são as correntes do rio-riso-puro que atravessam através, entre, por dentro de.

Fundo-me; perco-me para me encontrar assertivamente. Oiço rãs, vejo sapos; piso poças, sinto lama; terra, solta, Natureza viva, morta; caminho, entro, mergulho, fundo, nunca me lembro da hora para regressar, ignoro o tempo, o prato-descalço por lavar; observo as árvores que dançam, a bruma que esconde, portas, janelas, cantos, montes, atravesso um riacho de olhos fechados, estendo as mãos aos céus, encolho e estico, o peito, observo, ouroboros, movimento circular; octogonal, central, nasal, funcional. Sinto o Tudo e integro o Nada; choro... Choro muito, choro tanto! O encanto, a beleza, a solidão; Por onde andei?! Onde me perdi?! Quem esqueci?!

Abraço uma Raiz. 

Martela-me um impulso, cru, deito-me. Desejo dormir uma sesta mas ao invés disso escuto, oiço, vejo; Capto um mundo como ele verdadeiramente É, tão maior que eu e os meus pequenos pés, tão maior que o vizinho e o seu carro encarnado, tão maior que o amigo e o seu stress diminutivo. A terra gira, movo-me com ela, n'Ela, por Ela; as pedras, as rochas, as árvores, (outra vez as árvores!) permanecem "de pé", cantam, sem medo, as torturas da sua alma, o que lhe provocamos; ainda assim libertam, sem raiva, oxigénio para nós vivermos, alimentam, sem vingança, os sonhos que nos provocam e movem. Estabilidade debaixo da sola das botas mantém-me, firme fico! Choro mais um pouco e tanto é mesmo tanto! Cada vez mais...

Resumo, seguro; agora que VI não posso, nem quero esquecer. 

Não estou preparada para morrer; vou ficar aqui uns largos anos, com família, inteira, coesa, unida; concreta e amiga; por eles, por nós; Pendentes no mesmo ponto; o Centro.

Deus no Vento.
Mãe na Terra.

A Nossa Serra...

( Para Associação Cultural Alagamares)


5 comentários:

  1. Tu nunca morres porque te fazes eterna no que és e no que dás!

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    1. Este teu simples comentário é mais bonito do que qualquer mil frases escritas por mim. Deixas-me sem palavras

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  2. Este teu simples comentário é mais bonito do que qualquer mil frases escritas por mim. Deixas-me sem palavras

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